quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Abandono escolar
O insucesso e abandono escolares tomaram-se um problema dos actuais sistemas de ensino. Não sendo novo, ele requer hoje uma reavaliação, devido às mudanças profundas que as sociedades têm vindo a registar, quer na socialização dos jovens quer nas exigências que estas fazem, cada vez mais, à participação destes em diferentes esferas sociais.
Em sociedades como a portuguesa, em que o sistema de ensino se universalizou mais tardiamente e em que o mercado de trabalho é pouco exigente em qualificações, a atracção pelo trabalho juvenil constitui um factor de peso para o abandono escolar. Um estudo recentemente realizado, cujo objectivo consistia em analisar, numa área rural (onde as taxas de abandono são mais acentuadas), as determinantes sociais desse abandono, permitiu retirar algumas conclusões que ajudam a compreender o problema, a sua gravidade e dimensão.
Verificou-se que o perfil dos jovens que abandonam a escola evidencia uma pertença a famílias com baixas habilitações, baixos rendimentos e dificuldades económicas. Se estas dificuldades empurram os jovens, desejosos de autonomia financeira, para o mercado de trabalho, também a escola assume uma parte da responsabilidade no abandono precoce pela incapacidade que ela mostra de motivar e de desenvolver o interesse dos jovens pela educação e pela formação. A análise dos motivos que levam os jovens a abandonar a escola constitui, assim, o cerne deste artigo e assenta num modelo complexo que procura relacionar entre si as variáveis Escola, Família e Mercado de Trabalho, todas elas concorrentes na determinação do fenómeno.
Diagnose da actual situação de abandono escolar
A desvalorização dos jovens, o insucesso e o desinteresse escolar constituem ainda hoje, nas nossas escolas fenómenos massivos cuja natureza e determinantes parecem ser de essência sócio-económica.
Estes fenómenos conduzem-nos essencialmente a dois tipos de situações que correspondem a outras tantas posições relativamente ao percurso escolar de muitos jovens e são as seguintes: à os que ficam retidos, uma ou mais vezes no mesmo ano ou em diferentes anos escolares; è os que, tendo transitado, terminam o seu percurso escolar quando atingem a escolaridade obrigatória.
No primeiro caso, o desinteresse manifestado por estes jovens, que muitas vezes desenvolvem atitudes de fracasso face à escola e ao ensino que dispensa, conduz a uma constante interrupção do seu percurso escolar e consequentemente ao abandono escolar. No segundo caso, encontram-se os alunos que, tendo sido aprovados, terminam no final da escolaridade obrigatória, o seu percurso escolar.
Aparentemente, estes alunos decidem eles mesmos, abandonar o sistema de ensino, mas na verdade, esta interrupção voluntária dos estudos, corresponde, também ela a uma forma de abandono escolar.
Nos últimos anos, com a revisão curricular da educação básica e com os currículos alternativos, tentou-se travar o abandono escolar nas nossas escolas mas, de facto, tal parece não se ter revelado suficiente, uma vez que não se conseguiu inverter esse sentido.
Características dos alunos
O universo dos estudantes, matriculados nas nossas escolas, é constituído maioritariamente, por jovens com idades que estão de acordo com o ano escolar que frequentam. No entanto, são igualmente muitos os alunos que, por terem já ficado retidos uma ou mais vezes, as suas idades encontram-se “desfasadas” face ao ano escolar que frequentam, tendo já idades que não se encontram abrangidas pela escolaridade obrigatória.
Este facto prende-se certamente com o número de alunos que já ficaram retidos uma ou mais vezes em anos lectivos anteriores. Contribuindo, igualmente para este facto, estão também os alunos que interromperam o seu percurso escolar, abandonando a escola antes das aulas terminarem, apesar de alguns poderem, porventura, regressar às aulas em anos lectivos seguintes.
Ser estudante parece assim, ser um atributo dominante dos jovens até aos 15 anos e que nunca ficaram retidos. A partir desta idade e também para aqueles alunos que, apesar de ainda se encontrarem dentro da escolaridade obrigatória, vivem uma ou mais retenções durante o seu percurso escolar, começa já a marcar-se uma ruptura, com alguma intensidade, com o mundo escolar.
Muitos dos alunos que abandonaram o sistema de ensino, antes de concluírem o 9° ano de escolaridade, encontram-se já totalmente inseridos no mundo do trabalho. Alguns apenas concluíram o 2° ciclo, confirmando-se, assim, a ideia de que os jovens que estão inseridos no mundo do trabalho têm baixas qualificações escolares. Dos jovens que frequentam actualmente o 9° ano, muitos pertencem a grupos etários superiores aos 15 anos. A maioria destes jovens, parecem assim, ter estabelecido uma ruptura definitiva com o mundo escolar, uma vez, que não prosseguem os seus estudos e preferem optar por iniciar uma actividade exterior ao sistema de ensino.
A questão das habilitações escolares é um assunto que preocupa a todos, pela natureza específica e delicada da situação. Apesar de se verificar que muitos jovens possuem baixas qualificações académicas, parece não haver interesse, por parte dos mesmos, em alterar essa situação. Esta “despreocupação” pode ser comprovada pelos seguintes factos:
-->muitos jovens afirmam que não pretendem continuar os estudos após a conclusão do 9° ano de escolaridade;
-->outros afirmam que não se revêem neste tipo de ensino, pelo que quando atingirem os 15 anos de idade, mesmo que não concluam o 9° ano, preferem abandonar a escola e ingressarem no mercado de trabalho.
Em muitas das escolas situadas em áreas rurais, alguns destes estudantes gostariam de ingressar numa das escolas profissionais existentes mas, devido à distância a que as escolas por vezes se encontram das suas residências e às dificuldades encontradas nas mesmas, essa possibilidade toma-se remota sendo praticamente posta de parte por muitos destes jovens.
Quanto aos jovens que têm sempre transitado de ano, apesar de muitos ainda não saberem que grau académico desejam ter, têm porém, consciência das dificuldades inerentes à frequência do ensino secundário e mesmo ao processo de ingresso na universidade.
Características do meio familiar
As características da família são muito importantes para entender as decisões e atitudes dos jovens, quer em relação à escola quer em relação mercado de trabalho. O meio familiar pode influenciar e determinar uma situação de abandono precoce do sistema de ensino.
As características familiares que mais influenciam o percurso escolar dos jovens parecem ser a escolaridade dos familiares mais próximos e o tipo de profissões e ocupações que estes desempenham. Estes pontos podem condicionar o estilo de vida de um grupo familiar e, consequentemente, manipular o estilo de vida dos jovens. Torna-se por isso, importante conhecer melhor as propriedades do meio familiar onde os jovens se inserem, dado que na maioria dos casos parece existir uma correlação positiva entre o nível de instrução dos pais e o nível de instrução dos filhos.
Nas áreas rurais, o 4º ano de escolaridade é o nível de habilitações mais comum entre os progenitores dos nossos alunos. A maioria dos pais e mães conclui apenas o grau académico referente à escola primária e são muito poucos os progenitores que detêm um diploma com habilitações superiores.
As baixas habilitações académicas dos progenitores correspondem, de certo modo, às profissões que desempenham. As profissões que predominam nesta população adulta encerram-se, na maioria das vezes, num conjunto de actividades que não necessitam de habilitações muito elevadas.
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