segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Professores de castigo



Como a cidade de Nova York e seu secretário de Educação, Joel Klein, lidam com maus professores – que, por lei, não podem ser demitidos
Camila Guimarães

TCHAU, PROFESSOR
Joel Klein, secretário de Educação de Nova York, numa escola pública. Lugar de professor ruim é fora da sala de aula

O que fazer com professores incompetentes a quem a lei garante estabilidade de emprego? Esse é um problema enfrentado por quase todos os sistemas de ensino público, incluindo o brasileiro. A cidade de Nova York, cuja rede de ensino é a maior dos Estados Unidos (são 1,1 milhão de estudantes e 80 mil professores), adotou uma solução drástica: colocar os maus professores de castigo. Quase 700 deles são pagos para não dar aulas. Eles passam os dias de trabalho confinados em salas vazias, dentro de complexos chamados de Centros de Recolocação Temporária. Esses centros existem há anos para afastar professores suspeitos de alcoolismo, agressão física contra alunos e assédio moral ou sexual. Desde 2002, o governo municipal usa o mesmo sistema para afastar também os incompetentes. E agora começa a colher resultados.

As salas desses centros foram apelidadas de rubber rooms (quartos “emborrachados”, em referência a quartos de hospício). Não são exatamente locais aconchegantes. Tirando as carteiras típicas, nada lembra uma sala de aula. Não há livros, mapas pendurados na parede nem computadores. Algumas nem sequer têm janelas. Os professores são vigiados por dois seguranças e dois supervisores da Secretaria de Educação, têm horário para chegar e ir embora (o período corresponde ao dia de trabalho normal, das 8 às 15 horas) e não podem acessar a internet nem falar ao celular. Em resumo, fazem quase nada o dia inteiro. E isso pode durar anos. Quando um professor é denunciado pelo diretor da escola, é afastado imediatamente. Em seguida, um árbitro indicado pelo sindicato dos professores começa a investigar s se a acusação procede. Em caso positivo, o profissional é demitido. Em caso negativo, ele é reintegrado. Mas, por exigência do sindicato, os árbitros só trabalham nos casos cinco dias por mês. Isso faz com que, na média, cada investigação demore três anos para ser concluída.

As salas de castigo estão longe de ser uma solução ideal. Primeiro, porque são caras: enquanto estão no limbo, os professores continuam a receber seus salários e a contar tempo de serviço para garantir benefícios, como aposentadoria. Hoje, a cidade de Nova York gasta cerca de US$ 50 milhões por ano com os integrantes dos centros. Além disso, elas suscitam reclamações de professores que se sentem injustiçados. Em dezembro, um grupo deles entrou com um processo contra a prefeitura, alegando que o secretário municipal de Educação, Joel Klein, tem como objetivo “acabar com o direito à estabilidade de emprego”. Ao fazer de seu cotidiano profissional algo “insuportável” e “humilhante”, ele estaria forçando professores a pedir demissão.

Klein afirma que as salas de castigo funcionam principalmente para evitar que professores incompetentes deem aulas. Em Nova York, o contrato que rege as leis trabalhistas dos professores – inclusive a que determina o castigo remunerado – é assinado com o poderoso sindicato dos professores. Para a prefeitura, o prejuízo dos centros é considerado menor perto da alternativa, que seria deixar professores ruins influenciar milhares de crianças. “É o único jeito de mantê-los afastados da responsabilidade de educar crianças e jovens”, diz Ann Forte, porta-voz da Secretaria de Educação de Nova York.

A solução, radical, é explicada pela dificuldade das autoridades de educação de mexer com direitos adquiridos dos professores. O Estado de São Paulo, por exemplo, decidiu implantar um sistema de meritocracia, mas enfrenta ações judiciais do sindicato dos professores. O plano é mais suave que as salas de castigo. Em vez de punir maus professores, trata-se de premiar os melhores. A cada ano, o Estado aplicará uma prova para diretores, professores, coordenadores e supervisores. Os 20% mais bem avaliados receberão aumentos de 25% do salário. Os dois sindicatos mais representativos dos professores dizem que esse tipo de promoção fere a isonomia de classe.

“Não é incomum aparecer conflitos entre os direitos legais dos funcionários públicos e o direito da criança ao acesso à boa educação”, diz Ilona Becskeházy, diretora da Fundação Lemann, uma organização voltada para a melhora da educação no Brasil. Achar o equilíbrio entre esses dois pontos vem sendo a principal estratégia de Klein, que há sete anos deu início a uma radical reforma no sistema público de ensino da cidade. Seu lema: os pilares de qualquer ensino público – estabilidade de emprego, promoção por tempo de serviço e um sistema de remuneração hierárquico – beneficiam mais os funcionários e os políticos de plantão do que os alunos. Com isso, ele bateu de frente com uma classe de profissionais que não está acostumada a ser avaliada e cobrada. “No geral, professores não admitem que precisam de ajuda”, diz Patrícia Motta Guedes, pesquisadora do Instituto Fernand Braudel.

A principal medida de Klein foi dar mais autonomia aos diretores de escolas. Antes, eles não podiam contratar ou demitir sua própria equipe. Os professores é que escolhiam onde lecionar, de acordo com o tempo de serviço. Hoje, os diretores têm liberdade de contratação, gerência sobre o orçamento da escola e autonomia para decidir, por exemplo, pagar um salário maior para um professor que tenha melhor desempenho. Eles só não podem, ainda, demitir professores estáveis.

Junto com a autonomia, veio a cobrança. Assim que assume uma escola, o diretor assina um contrato dizendo quais são suas metas pedagógicas e orçamentárias. Se não cumpri-las no prazo determinado, é demitido, e a escola fecha. Desde 2002, 90 escolas desapareceram. A maioria dos diretores não aguentou. Cerca de 70% se aposentaram ou pediram demissão, de acordo com dados oficiais.

Embora ainda tenha muito trabalho pela frente, Klein conseguiu mostrar avanços no ensino. Entre 2005 e 2008, a taxa de conclusão do ensino médio aumentou de 47% para 61%. No mesmo período, a taxa de desistência caiu de 22% para 14%. Entre 2006 e 2009, a porcentagem de estudantes que atingiram os padrões adequados de aprendizagem para sua idade saltou de 57% para 82%, e a diferença entre o desempenho dos alunos negros em relação ao dos brancos diminuiu de 31% para 17%.

Além dos diretores, professores e alunos também passam por avaliações de desempenho periodicamente. As avaliações anuais, por um lado, determinam a demissão do diretor ou o afastamento de um professor. Por outro, são a base para o pagamento de bônus – em 2009 foram distribuídos US$ 5 milhões. O sistema pode até dar margem a alguns erros, mas em sua essência é muito simples: os professores que não ensinam são afastados, os que ensinam bem ganham bônus e são promovidos. Quem pode ser contra?
Fonte:ÉPOCA

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Indisciplina na Escola



Se há tema que hoje suscite mais polémicas este é um deles. O número de casos em todo o país atinge proporções no mínimo inquietantes. De acordo com os dados recolhidos de forma sistemática pelo Gabinete de Segurança do Ministério da Educação, desde 1999, o furto dos bens dos estudantes teve um acréscimo muito significativo, passando entre 2000 e 2001 de 297 para 714 ocorrências nos 14 mil estabelecimentos de ensino em todo o país. A violência física é mais visível através da pequena coacção física ou assédio para cedência de dinheiro e outros produtos. Este tipo de situações passou de 609 em 2000 para 1400 em 2001. Em 1999 registaram-se 55 agressões a professores, em 2001 foram contabilizadas 146 casos. É por isto e muito mais, que o tema da indisciplina está na ordem do dia.

Façamos um breve balanço deste tema, antes de entramos na sua análise mais detalhada.

Terminologia

O conceito de indisciplina é susceptível de múltiplas interpretações. Um aluno ou professor indisciplinado é em princípio alguém que possui um comportamento desviante em relação a uma norma explicita ou implícita sancionada em termos escolares e sociais. Estes desvios são todavia denominados de forma diferente conforme se trate de alunos ou de professores. Os primeiros são apelidados de indisciplinados, os segundos de incompetentes. Nestas notas vamos apenas abordar os comportamentos desviantes dos primeiros.

Indisciplina ou violência? A indisciplina pode implicar violência, mas não é necessário que esta ocorra. É neste sentido que alguns autores, distinguem vários níveis de indisciplina, tais como:

- Perturbação pontual que afecta o funcionamento das aulas ou mesmo da escola.

- Conflitos que afectam as relações formais e informais entre os alunos, que podem atingir alguma agressividade e violência, envolvendo por vezes, actos de extorsão, violência física ou verbal, roubo, vandalismo, etc.

- Conflitos que afectam a relação professor-aluno, e que em geral colocam em causa a autoridade e o estatuto do professor.

- Vandalismo contra a instituição escolar, que muitas vezes procura atingir tudo aquilo que ela significa.

Esta hierarquia tem sido contestada, na medida que conduz à naturalização das formas mais elementares de indisciplina (as perturbações), assumindo-as como inevitáveis. A ideia que acaba por passar é que só se coloca o problema da indisciplina quando existem agressões a colegas ou professores, a destruição ou roubo de escolas, etc.

Natureza da Indisciplina

Os alunos são indisciplinados por natureza ou porque as circunstâncias os estimulam a assumiram comportamentos desviantes? A respeito podemos distinguir duas correntes teóricas fundamentais:

Uma afirma que a indisciplina é uma tendência natural de todo o ser humano, está inscrita no seu código genético. O Estado, a educação e a cultura, actuam como freio destes impulsos anti-sociais. Estamos perante uma velha teoria que serviu a Thomas Hobbes para fundamentar a necessidade de um Estado forte, capaz de manter em ordem os "homens-lobo". A Charles Darwin para explicar a origem das espécies, a supremacia dos mais fortes. A F. Nietzsche para reclamar o poder para os super-homens que estão para além do bem e do mal.

Outra corrente sustenta que a natureza humana é uma espécie de recipiente vazio, pronto a ser preenchido pelos estímulos que recebe do exterior. Conforme a natureza destes estímulos assim será a criança, o adulto. As circunstâncias determinam aquilo que cada homem é. A contrapartida desta visão igualitarista, sustentada pela primeira vez pelos sofistas, foi o aparecimento de uma multiplicidade de métodos e técnicas para dar forma à natureza do homem..

Entre uma e outra corrente, existem uma multiplicidade de teorias que procuram articular o "inato" com o "adquirido", o "biológico" com o "social".

Tipos

Todas as mudanças são em certo sentido um acto de indisciplina ou de ruptura violenta com a ordem estabelecida. Não é possível encarar pois a indisciplina apenas de uma forma negativa. Ela pode assumir uma função criativa e renovadora das práticas instituídas. Os célebres acontecimentos de Maio de 1968, em França estão aí para demonstrarem todo o potencial criativo que pode estar contido nos actos de indisciplina dos jovens.

Manifestações de Indisciplina

As manifestações de indisciplina, nas suas formas mais elementares tornaram-se um rotina para qualquer professor. Exemplos de dois níveis de casos de indisciplina nas aulas:

Frequentes:

- Apatia do grupo.

- Cochicho

- Troca de mensagens e de papelinhos

- Intervalos cada vez maiores

- Exibicionismo

- Perguntas feitas de forma a colocar em causa o professor, ou a desvalorizarem o conteúdo das aulas

- Discussões frequentes entre grupos na alunos, de modo a provocarem uma agitação geral

- Comentários despropositados.

- Silêncios ostensivos

- Entradas e saídas "justificadas".

Excepcionais:

- Agressão a colegas

- Agressão a professores

- Roubos

- Provocações sexuais, racistas, etc.

O primeiro nível está hoje amplamente generalizado, o segundo está em crescimento.

Causas da Indisciplina

Não é fácil fazer o inventário das causas da indisciplina na escolas. O seu número não pára de aumentar, quase sempre suportada nos dias que correm numa sólida argumentação científica.

1.Família

As causas familiares da indisciplina estão à cabeça. É aí que os alunos adquirem os modelos de comportamento que exteriorizam nas aulas. Em tempos a pobreza, violência doméstica e o alcoolismo foram apontados como as principais causas que minavam o ambiente familiar. Hoje aponta-se o dedo também à desagregação dos casais, droga, ausência de valores, permissividade, demissão dos país da educação dos filhos, etc. Quase sempre os alunos com maiores problemas de indisciplina provém de famílias onde estes existem.

A novidade está contudo na participação directa dos país na violência que ocorre nas escolas. Impotentes para lidarem com a violência dos próprios filhos, muitos pais apontam o dedo aos professores que acusam de não os saberem "domesticar". Frequentemente estimulam e legitimam a sua indisciplina nas escolas. Alguns vão mais longe e agridem professores e funcionários.

2.Alunos

O que faz com que um aluno seja indisciplinado? É preciso dizer que muitas vezes as razões de fundo não são do foro da educação. Em muitos casos tratam-se de questões que deveriam ser tratadas no âmbito da saúde mental infantil e adolescente, da protecção social ou até do foro jurídico. O grande problema é que muitas vezes as escolas não conseguem fazer esta triagem. Tentam resolver problemas para os quais não estão preparadas ou nem sequer são da sua competência.

Todos os alunos são potencialmente indisciplinados, porque a escola é sempre sentida como uma imposição por parte do Estado ou da família. É por isso que as aulas são locais de constrangimentos e de repressão de desejos. Freud e depois Foucault dissecaram este problema. Nesta perspectiva o que acaba por diferenciar os alunos entre si é a atitude que assumem perante estas obrigações. Numa classificação de inspiração weberiana são distinguidos três tipos de alunos:

- Obrigados-satisfeitos: uma minoria que se conforma às exigências que a escola lhes impõe.

- Obrigados-resignados: A maioria que se adapta ao sistema procurando tirar partido da situação, atingindo dois objectivos supremos: "gozar a vida" e "passar de ano".

-Obrigados-revoltados: uma minoria inconformados (ou maioria conforme as circunstâncias sócio-económicas do meio). Da família à escola e desta à sociedade colocam tudo em causa: valores, normas estabelecidas, autoridade, etc..

Não é fácil explicar as razões que levam uns a assumirem-se como "conformistas" e outros como "revoltados". A "falta de afecto" ou a "vontade de poder" são, por exemplo, duas destas motivações. Há quem aponte também as tendências próprias de cada idade que transforma uns em "revoltados" e outros em "conformistas".

3.Grupos e Turmas

O grupo, enquanto conjunto estruturado de pessoas, tem uma enorme importância nos processos de socialização e de aprendizagem dos adolescentes. A sua influência acaba por ser decisiva para explicar certos comportamentos que os jovens demonstram e que são resultado de processos de imitação de outros membros do grupo. Certas manifestações de indisciplina, não passam muitas vezes de meras manifestações públicas de identificação com modelos de comportamento característicos de certos grupos. Através delas os jovens procuram obter a segurança e a força que lhes é dada pelos respectivos grupos, adquirindo certo prestígio no seio da comunidade escolar. Nada que qualquer professor não conheça. A turma é também um grupo, sem que todavia faça desaparecer todos os outros aos quais os alunos se encontram ligados dentro e fora da escola. Numa sociedade em que os grupos familiares estão desagregados, o seu espaço é cada vez mais preenchido por estes grupos formados a partir de interesses e motivações muito diversas.

4. Ministério da Educação

O Ministério da Educação é actualmente uma dos principais promotores da indisciplina nas escolas. Não apenas através da regulamentação que produz sobre a matéria, mas também das medidas avulso que toma ou da morosidade dos processos que aprecia. A ineficácia do sistema é neste domínio um poderoso estimulo à generalização de práticas desviantes.

Mas esta não é a única questão a considerar. As equipas que têm dirigido o Ministério da Educação são também responsáveis pela promoção de uma cultura de irresponsabilidade:

a) As sucessivas mudanças realizadas no sistema educativo em geral de forma atribulada e inconsequente. Como é sabido, entre nós, a máquina do Estado caracteriza-se há muito por ser ineficaz e ineficiente, sem que se apurem responsabilidades pelo que quer que seja. O Ministério da Educação não é excepção, pelo contrário é um dos exemplos paradigmáticos desta situação. A imagem que passa é de uma "casa" em convulsão permanente. Cada novo ministro procura deixar a sua "marca" numa nova reforma que nunca é concluída, nem sequer avaliada. A mudança continua dirigentes, aliada a ausência de uma avaliação do seu desempenho permite a mais completa impunidade e o constante improviso. Os serviços do próprio ministério não funcionam e dificilmente são reformáveis. Tudo isto acaba por veicular nas escolas e na sociedade a ideia que a educação é um domínio pouco sério.

b) A prática corrente de um discurso que des-responsabiliza os dirigentes e os serviços do Ministério, e que acaba sempre por imputar a responsabilidade pela pouca eficácia do sistema aos professores. Ao escamotear-se desta forma outros actores no processo, criam-se zonas cinzentas em todo o sistema. Desmotivam-se uns e fomenta-se a impunidade de outros. O resultado final só pode ser o aumento da permissividade no cumprimento das normas mais elementares.

5.Escola

A organização escola está longe de ser um modelo de virtudes. Funciona em geral de modo pouco eficaz e eficiente. A excessiva dependência do Ministério da Educação, tende a reduzir os que nela trabalham a meros executantes, sem capacidade de resposta para a multiplicidade problemas que enfrentam.

No passado o contributo dado pelas escolas para a indisciplina assentava na questão da selecção que operavam. As escolas eram acusadas de discriminarem os alunos à entrada e na constituição das turmas. A fazê-lo, criavam focos de revolta por parte daqueles que legitimamente se sentiam marginalizados. A questão ainda é colocada, mas não com acuidade que antes conheceu. Os contributos da escola para a indisciplina são agora outros.

Há muito que a escola deixou de ter um papel integrador dos alunos. Embora seja um espaço onde estes passam grande parte do seu tempo, nem sempre nela chegam a perceber quais são os seus valores, regras de funcionamento, etc.

Na verdade a escolas estão mal preparadas para enfrentarem a complexidade dos problemas actuais, nomeadamente os que se prendem com a gestão das suas tensões internas. A crescente participação de alunos, pais, entidades públicas e privadas nas decisões tomadas nas escolas tornou-se uma fonte de conflitos, que não raro acabam por gerar climas propícios à irrupção de fenómenos de indisciplina.

As Associações de Pais, quando funcionam, encaram muitas vezes os professores como um bando incompetentes que aproveitam todas as ocasiões para se furtarem às aulas. Repetem-se por todo o país os casos de membros destas associações que tirando partido da sua posição exercem pressão junto dos professores para beneficiarem os seus filhos.

6.Programas

A motivação é um dos factores fundamentais da aprendizagem. Para que a motivação exista nas escolas é necessário que os programas sejam próximos da realidade vivenciada pelos alunos e com temas agradáveis. No horizonte, qualquer programa escolar deverá ter, se possível, um emprego seguro e bem remunerado. Tudo o não passe por isto, é inútil e só pode conduzir situações de frustração, desmotivação, potenciando situações de crescente indisciplina. Estamos perante um discurso caricatural, mas que se encontra hoje amplamente difundido.

7. Regulamentos Disciplinares

Um regulamento disciplinar é tudo e não é nada. Os professores imaginam-se com ele a salvo de muitos problemas disciplinares, e por isso procuram torná-lo o mais completo possível. O aumento da sua extensão cresce na mesma proporção directa da sua inaplicabilidade. A questão é todavia meramente ilusória. Os professores partem do pressuposto que o mesmo será acatado pelos alunos, dado que foi aprovado pelos representantes, e que desta maneira se conformarão ao que nele estiver prescrito. Para os alunos, contudo, o regulamento não existe. O que impera na escola "é" a vontade dos professores e do Conselho Executivo. O regulamento será sempre mais um instrumento do seu poder discricionário.

8.Professores

Há professores que provocam mais indisciplina que outros. As razões porque isto acontece é que são muito variáveis, mas quatro delas são frequentemente citadas:

- Falta de capacidade para motivarem os alunos, nomeadamente utilizando métodos e técnicas adequadas.

- Impreparação para lidarem com situações de conflito.

- A forma agressiva como tratam os alunos estimulando reacções violentas.

- A estigmatização e a rotulagem dos alunos.

A estas razões junta-se agora uma outra mais recente: a crescente feminização do corpo docente. Se ela não estimula, certamente não facilita a questão da indisciplina afirmam os especialistas. Os rapazes seriam os mais afectados.

9.Sociedade

Há séculos que se apontam um série de nefastas influências sociais para explicar certos comportamentos violentos dos jovens. As práticas de diversão estão em geral à cabeça neste inventário das fontes de uma cultura da violência. No passado referiam-se os combates e as touradas, hoje aponta-se o cinema, mas sobretudo a televisão e certos grupos e géneros musicais. Mas o problema ultrapassa a diversão. As nossas cidades são particularmente violentas. A única forma de sobreviver é assumir esta cultura de violência. O discurso é conhecido.


A tudo isto, junta-se um outro elemento de peso: o individualismo hedonista. Obter o máximo prazer no mais curto espaço de tempo, não importa os meios.

10.Grupos Sociais Problemáticos

As escolas públicas são hoje frequentadas por populações escolares muito heterogéneas, contando no seu seio com um crescente número de alunos que provém de grupos sociais onde subsistem frequentemente graves problemas de integração social (ciganos, negros, etc.). Apesar da especificidade dos problemas destes alunos, a escola recusa-se, por uma questão ideológica a tratá-los de um modo diferenciado. A democraticidade do tratamento não elimina os problemas de socialização. Resultado: os problemas são transportados para dentro da sala de aula.

11.Ideologias

A abordagem da questão da violência não pode ser divorciada das ideologias políticas. As ideologias de direita sempre defenderam o primado do ordem e da responsabilização individual. O combate à indisciplina uma bandeira que sempre lhes foi cara. As ideologias de esquerda tende a ser mais tolerantes com a questão da indisciplina dos alunos. O problema é encarado como um mero reflexo de questões de natureza social, os alunos acabam por ser vistos como quot;vítimas" e não como "responsáveis". O resultado é para a adopção de praticas "desculpabilizadoras", "permissivas", etc. Trata-se de uma caricatura, mas como tal é largamente difundida.

Medidas Para Combater a Indisciplina

Castigo, Compromisso, Negociação e Criatividade. Estas são as receitas mais recomendadas.

Conclusão

A violência na escola



Aída Maria Monteiro Silva

A seguir, algumas questões para sua reflexão. Na sua escola:
- Todas as pessoas (alunos, funcionários, professores, pais...) são respeitadas?
- Os professores têm se atualizado, visando um ensino de qualidade?
- Os temas da violência e dos direitos dos cidadãos fazem parte integrante do currículo escolar?
- A escola oferece palestras e cursos sobre o tema da violência? Esses eventos têm contado com a participação da família e da comunidade?
- As diferentes opiniões são respeitadas ?
- As famílias têm assumido o seu papel na formação de seus filhos?
- As expressões dos alunos sobre as mais variadas situações têm sido incentivadas?
Se você respondeu sim à maioria das perguntas, ótimo! Sua escola exercita parte das sugestões de alunos e professores que participaram da pesquisa realizada pela autora desse texto, que discute a questão da violência na escola em busca de soluções criativas e coletivas.


"A questão da violência e as violações dos direitos humanos no Brasil, especialmente as que atingem a vida e a integridade física dos indivíduos, além de serem amplamente divulgadas na sociedade em geral, aparecendo com bastante ênfase nos meios de comunicação de massa, constituem-se, segundo as pesquisas de opinião pública, em uma das maiores preocupações da população nas grandes cidades."

"Esta negação dos direitos fundamentais à maioria da população brasileira encontra explicação no modelo econômico e social excludente, que apresenta grandes disparidades quanto ao acesso da população aos bens sociais, caracterizando-se como uma sociedade que apresenta uma das piores distribuições de renda do mundo. A convivência dos indivíduos, em extrema desigualdade social, certamente é um dos fatores que muito contribuem para a degradação do comportamento humano."

"É preciso que trabalhemos um novo formato de prática pedagógica, em que a escola passe a ser, de fato, local de aprendizagem, de uma nova cultura, a da aprovação e da formação da cidadania, entendida como a materialização dos direitos sociais a todos os cidadãos."

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Abandono escolar



O insucesso e abandono escolares tomaram-se um problema dos actuais sistemas de ensino. Não sendo novo, ele requer hoje uma reavaliação, devido às mudanças profundas que as sociedades têm vindo a registar, quer na socialização dos jovens quer nas exigências que estas fazem, cada vez mais, à participação destes em diferentes esferas sociais.

Em sociedades como a portuguesa, em que o sistema de ensino se universalizou mais tardiamente e em que o mercado de trabalho é pouco exigente em qualificações, a atracção pelo trabalho juvenil constitui um factor de peso para o abandono escolar. Um estudo recentemente realizado, cujo objectivo consistia em analisar, numa área rural (onde as taxas de abandono são mais acentuadas), as determinantes sociais desse abandono, permitiu retirar algumas conclusões que ajudam a compreender o problema, a sua gravidade e dimensão.

Verificou-se que o perfil dos jovens que abandonam a escola evidencia uma pertença a famílias com baixas habilitações, baixos rendimentos e dificuldades económicas. Se estas dificuldades empurram os jovens, desejosos de autonomia financeira, para o mercado de trabalho, também a escola assume uma parte da responsabilidade no abandono precoce pela incapacidade que ela mostra de motivar e de desenvolver o interesse dos jovens pela educação e pela formação. A análise dos motivos que levam os jovens a abandonar a escola constitui, assim, o cerne deste artigo e assenta num modelo complexo que procura relacionar entre si as variáveis Escola, Família e Mercado de Trabalho, todas elas concorrentes na determinação do fenómeno.

Diagnose da actual situação de abandono escolar

A desvalorização dos jovens, o insucesso e o desinteresse escolar constituem ainda hoje, nas nossas escolas fenómenos massivos cuja natureza e determinantes parecem ser de essência sócio-económica.
Estes fenómenos conduzem-nos essencialmente a dois tipos de situações que correspondem a outras tantas posições relativamente ao percurso escolar de muitos jovens e são as seguintes: à os que ficam retidos, uma ou mais vezes no mesmo ano ou em diferentes anos escolares; è os que, tendo transitado, terminam o seu percurso escolar quando atingem a escolaridade obrigatória.
No primeiro caso, o desinteresse manifestado por estes jovens, que muitas vezes desenvolvem atitudes de fracasso face à escola e ao ensino que dispensa, conduz a uma constante interrupção do seu percurso escolar e consequentemente ao abandono escolar. No segundo caso, encontram-se os alunos que, tendo sido aprovados, terminam no final da escolaridade obrigatória, o seu percurso escolar.
Aparentemente, estes alunos decidem eles mesmos, abandonar o sistema de ensino, mas na verdade, esta interrupção voluntária dos estudos, corresponde, também ela a uma forma de abandono escolar.
Nos últimos anos, com a revisão curricular da educação básica e com os currículos alternativos, tentou-se travar o abandono escolar nas nossas escolas mas, de facto, tal parece não se ter revelado suficiente, uma vez que não se conseguiu inverter esse sentido.

Características dos alunos

O universo dos estudantes, matriculados nas nossas escolas, é constituído maioritariamente, por jovens com idades que estão de acordo com o ano escolar que frequentam. No entanto, são igualmente muitos os alunos que, por terem já ficado retidos uma ou mais vezes, as suas idades encontram-se “desfasadas” face ao ano escolar que frequentam, tendo já idades que não se encontram abrangidas pela escolaridade obrigatória.

Este facto prende-se certamente com o número de alunos que já ficaram retidos uma ou mais vezes em anos lectivos anteriores. Contribuindo, igualmente para este facto, estão também os alunos que interromperam o seu percurso escolar, abandonando a escola antes das aulas terminarem, apesar de alguns poderem, porventura, regressar às aulas em anos lectivos seguintes.

Ser estudante parece assim, ser um atributo dominante dos jovens até aos 15 anos e que nunca ficaram retidos. A partir desta idade e também para aqueles alunos que, apesar de ainda se encontrarem dentro da escolaridade obrigatória, vivem uma ou mais retenções durante o seu percurso escolar, começa já a marcar-se uma ruptura, com alguma intensidade, com o mundo escolar.

Muitos dos alunos que abandonaram o sistema de ensino, antes de concluírem o 9° ano de escolaridade, encontram-se já totalmente inseridos no mundo do trabalho. Alguns apenas concluíram o 2° ciclo, confirmando-se, assim, a ideia de que os jovens que estão inseridos no mundo do trabalho têm baixas qualificações escolares. Dos jovens que frequentam actualmente o 9° ano, muitos pertencem a grupos etários superiores aos 15 anos. A maioria destes jovens, parecem assim, ter estabelecido uma ruptura definitiva com o mundo escolar, uma vez, que não prosseguem os seus estudos e preferem optar por iniciar uma actividade exterior ao sistema de ensino.

A questão das habilitações escolares é um assunto que preocupa a todos, pela natureza específica e delicada da situação. Apesar de se verificar que muitos jovens possuem baixas qualificações académicas, parece não haver interesse, por parte dos mesmos, em alterar essa situação. Esta “despreocupação” pode ser comprovada pelos seguintes factos:
-->muitos jovens afirmam que não pretendem continuar os estudos após a conclusão do 9° ano de escolaridade;
-->outros afirmam que não se revêem neste tipo de ensino, pelo que quando atingirem os 15 anos de idade, mesmo que não concluam o 9° ano, preferem abandonar a escola e ingressarem no mercado de trabalho.

Em muitas das escolas situadas em áreas rurais, alguns destes estudantes gostariam de ingressar numa das escolas profissionais existentes mas, devido à distância a que as escolas por vezes se encontram das suas residências e às dificuldades encontradas nas mesmas, essa possibilidade toma-se remota sendo praticamente posta de parte por muitos destes jovens.

Quanto aos jovens que têm sempre transitado de ano, apesar de muitos ainda não saberem que grau académico desejam ter, têm porém, consciência das dificuldades inerentes à frequência do ensino secundário e mesmo ao processo de ingresso na universidade.

Características do meio familiar

As características da família são muito importantes para entender as decisões e atitudes dos jovens, quer em relação à escola quer em relação mercado de trabalho. O meio familiar pode influenciar e determinar uma situação de abandono precoce do sistema de ensino.

As características familiares que mais influenciam o percurso escolar dos jovens parecem ser a escolaridade dos familiares mais próximos e o tipo de profissões e ocupações que estes desempenham. Estes pontos podem condicionar o estilo de vida de um grupo familiar e, consequentemente, manipular o estilo de vida dos jovens. Torna-se por isso, importante conhecer melhor as propriedades do meio familiar onde os jovens se inserem, dado que na maioria dos casos parece existir uma correlação positiva entre o nível de instrução dos pais e o nível de instrução dos filhos.

Nas áreas rurais, o 4º ano de escolaridade é o nível de habilitações mais comum entre os progenitores dos nossos alunos. A maioria dos pais e mães conclui apenas o grau académico referente à escola primária e são muito poucos os progenitores que detêm um diploma com habilitações superiores.

As baixas habilitações académicas dos progenitores correspondem, de certo modo, às profissões que desempenham. As profissões que predominam nesta população adulta encerram-se, na maioria das vezes, num conjunto de actividades que não necessitam de habilitações muito elevadas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mensagem de início de ano 2010

Caro Professor(a), esta é uma página especial para início de ano letivo. Este ano provavelmente você enfrentará muitos desafios e com sua coragem para transpor obstáculos, obterá muitas conquistas e vencerá. Vou sugerir alguns pensamentos que poderão tornar seu local de trabalho ainda mais agradável e harmonioso. Você poderá levar seus alunos à reflexão e deixá-los sempre motivados para o sucesso. Selecione algumas frases, faça algumas faixas e cartazes e cole-os nas paredes dos corredores e das salas de aula. Por uns dias a novidade funciona, depois de algum tempo, os alunos se acostumam com eles e passam a não notá-los, então é hora de substituir as frases. O ideal seria uma vez por mês.

BOAS VINDAS


Sorria, você está chegando na sua Escola!

Seja bem-vindo, sua presença muito nos alegra!

Que bom que você está aqui!

Caros alunos, a direção, os professores e funcionários saudamos sua honrosa presença.

Escola, local onde os amigos se encontram.


AUTO-AJUDA


Todos devemos colaborar para fazer da escola um local agradável.

Juntos formamos uma equipe dinâmica.

Ninguém nasce pronto, é preciso esforço e determinação.

A educação é o primeiro passo para um futuro melhor.

A escola lhe oferece oportunidade para se tornar tudo o que você pode ser.

Todos possuímos capacidade de melhorar

A coragem e a determinação são nossas companheiras.

Aprender é um direito e um dever do aluno.

Você vai experimentar uma sensação de realização ao concluir este ano letivo.

O esforço é necessário para se obter o sucesso.


Que Deus nos abençoe neste ano de 2010


Direção da Escola

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O papel do professor no processo ensino-aprendizagem



As informações nos chegam, hoje, rapidamente e o que antes demorava uma década para mudar, nos dias atuais ocorre da noite para o dia.

Dessa forma e diante da quantidade de informações e da facilidade de acesso a estas, deve o professor conduzir o aluno de forma que possa o aprendizado ser mútuo e repleto de paixão: A paixão faz parte da vida... a vida é uma paixão eterna. Aprender é uma constante e ensinar uma dádiva.

O professor deve "traduzir" os ensinamentos de forma que o aluno se sinta dentro de uma inesquecível "viagem" e dessa forma possa assegurar a produtividade do ensinamento.

A secura e distanciamento entre professor e aluno devem dar lugar a uma relação de carinho e proximidade. Uma proximidade tal que aluno seja levado a querer aprender... A desejar sempre mais e que o educador sinta-se como um elemento de importância fundamental na vida daquele aluno que levará para sempre os ensinamentos adquiridos.

Os docentes devem ser preparados para a arte do ensinar. Não basta ser um bom pesquisador, necessário se faz que seja, também, um bom transmissor de conhecimentos.

Ocorre que ao ensino médio é exigida formação especifica para ministrar aulas, enquanto para o ensino superior não há tal exigência, fato este que deve ser mudado, uma vez que para transmitir conhecimentos não basta apenas tê-los... mais que isso o educador deve ter a formação necessária para tal.

Existem profissionais extremamente habilitados para militar em suas respectivas áreas e ainda munidos de profundo conhecimento, entretanto limitados quando o assunto é transmitir seus conhecimentos.

Enfim, o professor deve ser um aliado na construção do indivíduo - aluno- e não, simplesmente, um transmissor de disciplinas.O professor deve ainda estar apto as contínuas mudanças de nosso dia a dia.

Refrexão sobre a Evasão Escolar: possíveis causas e consequências



Magali Pereira Bento

BREVE ENSAIO SOBRE A EVASÃO ESCOLAR

Apesar de todos os avanços e transformações conquistadas a educação pública brasileira ainda possui registros altíssimos de evasão escolar. O abandono da escola pelo aluno ao lado da repetência é considerado um dos principais problemas da educação brasileira. Cabendo aqui lembrar que também um dos fatores que causam essa evasão é o desânimo dos alunos pelas sucessivas repetências. Dessa forma, repetência e evasão estão relacionadas.
Apesar das mais diversas discussões, propostas e metas e programas desenvolvidos no país, a evasão escolar ainda ocupa espaço de relevância no cenário das políticas públicas e da educação.
Com relação à educação, a legislação brasileira determina a responsabilidade da família e do Estado no dever de orientar a criança em seu percurso sócio-educacional. Conforme a LDB 9.394/96:
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A educação, segundo estabelece a Constituição (arts. 205 e 227), é um direito público subjetivo que deve ser assegurada a todos, através de ações desenvolvidas pelo Estado e pela família, com a colaboração da sociedade. Quando trata especificamente do direito à educação destinado às crianças e aos adolescentes, o Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 4º) o descreve como um dever da família, comunidade, sociedade em geral e do Poder Público.
No entanto, pode-se observar que a educação ainda não está ao alcance de todos os cidadãos, principalmente no que se refere à conclusão de todos os níveis de escolaridade. E sendo assim, a evasão escolar traz várias conseqüências para a população dentre elas a marginalização, baixa auto-estima, distorção idade/série, repetência, desemprego, desigualdade social entre outras.
Diversas causas podem determinar a evasão escolar dentre elas: escola não atrativa, professores despreparados, alunos desinteressados, alunos com problema de saúde, gravidez precoce, pais irresponsáveis, desinteresse em relação aos filhos, trabalho com incompatibilidade de horário para os estudos, agressão entre os alunos, violência, drogas, etc.
Essas causas podem ser observadas isoladamente ou combinadas. Sendo muito importante diagnosticar, detectar o problema e buscar as possíveis soluções, com intuito de proporcionar o retorno efetivo do aluno à escola.
Como se sabe, a educação não é um direito cuja responsabilidade é imposta exclusivamente a um determinado órgão ou instituição. Na verdade, é um direito que tem seu fundamento na ação do estado e do município, mas que é compartilhada por todos, ou seja, pela família, comunidade e sociedade em geral.

Vários estudos apontam alguns aspectos sociais considerados como determinantes da evasão escolar, tais como:

ü Desestruturação familiar: A família é um fator determinante na educação do cidadão. Seja pelas suas condições de vida, seja por não acompanhar o seu(s) filho(s) em suas atividades escolares, pela falta de estímulos e incentivos, a sua desestruturação resulta sem sombra de dúvida, no fracasso escolar da criança.
Segundo BRANDÃO (1983),
[...] o fator mais importante para compreender os determinantes do rendimento escolar é a família do aluno, sendo que, quanto mais elevado o nível da escolaridade da mãe, mais tempo a criança permanece na escola e maior é o seu rendimento.

ü Ausência de Políticas Públicas Adequadas: Desigualdades sociais são presentes na sociedade brasileira, e segundo ARROYO (1991), são resultantes das “diferenças de classe”, e são elas que “marcam” o fracasso escolar nas camadas populares:
É essa escola das classes trabalhadoras que vem fracassando em todo lugar. Não são as diferenças de clima ou de região que marcam as grandes diferenças entre escola possível ou impossível, mas as diferenças de classe. As políticas oficiais tentam ocultar esse caráter de classe no fracasso escolar, apresentando os problemas e as soluções com políticas regionais e locais.

Dados diversos revelam uma realidade bastante preocupante e que atinge a escola, o Município, o Estado e o país. Embora medidas governamentais tenham sido tomadas para erradicar a evasão escolar, como por exemplo, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, a criação do programa Bolsa Família, a implantação do Plano Desenvolvimento Escolar (PDE), etc. , ainda não são suficientes para garantir a permanência da criança na escola.

ü Desemprego: conforme vários estudos, os alunos de nível sócio-econômico mais baixo têm um menor índice de rendimento e, de acordo com alguns autores, são mais propensos à evasão. Em face da realidade do desemprego no país, a evasão escolar cresce bastante, pois muitas crianças acabam desistindo da escola pela necessidade de contribuir para a subsistência da família.
Sobre a evasão escolar dos alunos dos cursos noturnos MEKSENAS (1998), aponta que a evasão destes alunos se dá em virtude de estes serem “obrigados a trabalhar para sustento próprio e da família, exaustos da maratona diária e desmotivados pela baixa qualidade do ensino, muitos adolescentes desistem dos estudos sem completar o curso secundário”.

ü Desnutrição: a má-alimentação é um dos fatores responsáveis pelo fracasso de boa parte dos alunos da educação pública brasileira. Má-alimentação resulta em desnutrição e conforme SILVA (1978):
[...]desnutrição pregressa, mesmo moderada, é uma das principais causas da alteração no desenvolvimento mental, e mau desempenho escolar. As crianças desnutridas se tornam apáticas, solicitam menos atenção daqueles que as cercam e, conseqüentemente, por não serem estimuladas, têm seu desenvolvimento prejudicado.

ü Escola : Embora alguns autores apontem a criança e a família como responsáveis pelo fracasso escolar, outros atribuem à escola o fator determinante da evasão. FUKUI (1983) ressalta que “o fenômeno da evasão e repetência longe está de ser fruto de características individuais dos alunos e suas famílias. Ao contrário, refletem a forma como a escola recebe e exerce ação sobre os membros destes diferentes segmentos da sociedade”.
E dentro da escola, o professor por conseguinte também é apontado como produtor do fracasso escolar. Para ROSENTHAL e JACOBSON ((in GOMES, 1994) a responsabilidade do professor pelo fracasso escolar do aluno se deve às expectativas negativas que este tem em relação aos seus alunos [...] que muitas vezes, apresentam comportamentos de acordo com o que o professor espera deles. Estes teóricos mostraram através de seus estudos, que as expectativas, em geral, podem influenciar os fatos da vida cotidiana, e que geralmente, as pessoas parecem ter a tendência a se comportar de acordo com o que se espera delas. Assim, a expectativa que uma pessoa tem sobre o comportamento de outra, acaba por se converter em realidade.
Também pela forma como ministra suas aulas, da maneira que utiliza para trabalhar os conteúdos o professor pode incentivar ou desestimular as crianças. Muitos na verdade ainda atuam em total despreparo. E apesar dessa constatação muitas vezes a escola não reflete sobre a necessidade de esses profissionais redimensionarem suas práticas de maneira a possibilitar o interesse dos alunos pelos estudos. Sempre tendo em consideração que a evasão escolar se relaciona diretamente com outros importantes temas da pedagogia, como: formas de avaliação, reprovação escolar, currículo e disciplinas escolares.

ü A própria criança: outro aspecto determinante da evasão escolar e que também merece uma reflexão mais atenta, refere-se às crianças que, sem um motivo aparente, vem deixando a Escola lentamente. Tal fato exige uma atenção e reflexão tanto por parte da escola quanto por parte da família, porque reflete o interesse da criança em prosseguir seus estudos. Tal situação exige que, tanto a Escola quanto a Família, investiguem, procurem saber os motivos pelos quais a criança está abandonando a escola para que possam interagir e buscar soluções, no sentido de encontrar possibilidades que venham impedir a evasão ou promover a volta do aluno para a escola.
A pesquisa Motivos da Evasão Escolar, realizada pela Fundação Getulio Vargas – FGV-RJ, e publicada em 15 de abril de 2009 aponta a falta de interesse pela escola comoo principal motivo que leva o jovem brasileiro a evadir. Revela ainda que 40% dos jovens de 15 a 17 anos que evadem deixam de estudar simplesmente porque acreditam que a escola é desinteressante. A necessidade de trabalhar é apontada como o segundo motivo pelo qual os jovens evadem, com 27% das respostas, e a dificuldade de acesso à escola aparece com 10,9%.
A evasão escolar é uma questão gigantesca que vem ocupando relevante papel nas discussões e pesquisas educacionais no cenário brasileiro. Devido a isto, educadores brasileiros, cada vez mais, devem preocupar-se com as crianças que chegam à escola, mas, que nela não permanecem. E muito mais do que apontar um ou outro responsável a grande questão deve ser buscar formas, soluções para essa problemática. Buscar respostas para questões do tipo:
ü A maneira como a escola organiza suas atividades escolares está atendendo as necessidades e interesses dos estudantes?
ü Qual o papel da escola e da família, enquanto responsáveis diretamente pela formação político-social da criança?
ü O que pensa a escola, a família e a criança a respeito da evasão escolar?
ü O que as escolas, o município, o estado, o país têm feito diante da realidade da criança que evade?
Buscar compreender o processo de evasão escolar e identificar possíveis soluções revela que tanto a Escola quanto a Família, precisam superar uma complexidade de situações que interferem no processo sócio-educativo da criança. Superar o processo de evasão escolar que exclui principalmente as crianças desfavorecidas socialmente deve ser meta principal do Governo e de todos envolvidos com a educação pública brasileira.
Combater a evasão escolar sugere, portanto, que é preciso atacar em duas frentes: uma de ação imediata que busca resgatar o aluno “evadido”, e outra de reestruturação interna que implica na discussão e avaliação das diversas questões enumeradas acima.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARROYO, Miguel Gonzalez. Educação e exclusão da cidadania In; BUFFA, Ester.
Educação e cidadania: quem educa o cidadão. 4 ed. São Paulo: Cortez, 1993

BRANDÃO, Zaia et alii. O estado da arte da pesquisa sobre evasão e repetência no ensino de 1º grau no Brasil. In Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 64, nº 147, maio/agosto 1983, p. 38-69.

FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 4ª ed., São Paulo: Moraes, 1980.

GOMES, Candido Alberto. A Educação em Perspectiva Sociológica. 3ª ed., São Paulo: EPU, 1994.

MEKSENAS, Paulo. Sociologia da Educação: Uma introdução ao estudo da escola no processo de transformação social. 2ª ed., São Paulo: Cortez, 1992.

SILVA, Arlete Vieira da. O processo de exclusão escolar numa visão heterotópica. In: Revista Perspectiva. v. 25, nº 86, Erechim, junho 2000, p.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Projeto AME a VIDA


Assistente Social Andreia Maida e Psicóloga Ítala Paricia ministrando para os alunos da escola

A Escola Municipal Vicente Mendonça,é parceira da Secretaria de Segurança Pública(SSP),no Projeto Ame a Vida,que faz parte integrante do plano de revitalização da Segurança Pública visando a humanização no atendimento aos usuários,com intuito de estabelecer a melhoria da qualidade de vida,além de intervir nas questões sociais existentes e de maneira indireta,promover ações que contribuam para redução dos índices de violência e criminalidade em Manaus

Objetivos:

Prestar apoio psicossocial aos seguimentos vulnerabilizados,visando a superação de suas demandas e necessidades sociais,bem como seu protagonismo;

Promover o acesso da população acerca de seus direitos;

Estimular a formação de conselhos comunitários de segurança para discussão dos problemas da comunidade.

Como Funciona:

Mapeamento das áreas de abrangências das circunscricões para reconhecimento de lideranças locais,bem como utilização dos recursos existentes;

Orientações aos usuários que procuram as circunscrições;

Referenciamento dos usuários para rede de serviços socioassitenciais (equipamentos sociais públicos e privados);

Realizações de reuniões e oficinas temática para nivelamento de conhecimento junto às comunidades;

Subsídios às decisõs da autoridades policial por meio de estudo e laudos técnicos.

Visitas técnicas.

Realizações de oficinas,seminários e reuniões.

Apoio: SEMED,SSP,SEAS,IDPT